Já
há alguns anos que não ia a Cantanhede! Quando verifiquei que ia haver um
trail, de noite (o início estava marcado para as 18h30, que nesta época do ano
já está completamente escuro) e no fim de semana em que ia estar sozinho (a
Anita iria ficar em Lisboa, pois tinha a festa de natal da empresa) decidi que
era a altura certa de lá voltar, e fazer desporto entretanto, ainda para mais
participando num evento novo.
Seguindo
as indicações da organização, que solicitei por email cerca das 23h da véspera
– a que eles responderam quase de imediato – cheguei facilmente ao
estacionamento junto ao pavilhão onde estava localizado o secretariado e onde
seriam também os banhos.
Como
cheguei relativamente cedo, em relação à hora da partida, fui calmamente ao
secretariado levantar o meu kit de participante, constituído, entre outras
pequenas ofertas, por uma t-shirt técnica alusiva ao evento e uma mini garrafa
de vinho da região. Começava bem!
Entretanto,
pude conhecer (o melhor será dizer que fui reconhecido, pois foi ele que, de
longe, estava eu ao telefone, me chamou) o director do evento e mentor do
projecto, César Francisco. Trocámos algumas impressões e deu-me mais algumas
indicações, entre as quais a informação que no final teríamos direito a ir
comer uma sopa quentinha, o que com certeza seria muito agradável, tendo em
conta a temperatura esperada.
Cerca
de meia hora antes do início, acabei de me preparar e fui andando para a praça
central, onde estava localizada a partida/chegada, aproveitando para tirar umas
fotos pelo caminho e mais umas quando lá cheguei.
Depois
de uma pequena palestra aos participantes, fizemos o controle zero e, depois,
dirigimo-nos todos para a linha de partida, que foi dada apenas 10 minutos
depois da hora.
E
assim começava a aventura de correr um trail, à noite, em Cantanhede.
Os
primeiros 2 km foram feitos praticamente em grupo, ainda que alongado, pelas
ruas da cidade, até que entrámos num primeiro trilho. A partir daqui, foram
poucos os km que corremos em alcatrão, estivemos quase sempre em terra.
Estava
inscrito no percurso de 21 km mas tinha decidido, fruto de uma semana dura de
trabalho e do próprio dia em que me tinha levantado cedo para ir trabalhar,
tendo-o feito até perto da hora de seguir viagem, que quando chegasse à divisão
de percurso entre os 10 e os 21 km, tomaria a opção de encurtar ou não a
distância dependendo de como me sentisse fisicamente. Ora acontece que esta
separação era logo aos 5 km, pois o percurso dos 10 apenas tinha esta parte em
comum (eu achei que ia ser mais) e voltava praticamente para trás,
paralelamente ao que até aí se tinha feito. Logicamente, aos 5 km eu ainda
estava bem, por isso continuei para os 21. Agora não havia volta a dar:
desistir não era opção, encurtar a distância também não, só me restaria
completar aquilo em que me tinha inscrito, independentemente do tempo que me
levasse fazê-lo.
Mas
a verdade é que correr trail é mais «fácil» que estrada. Como o percurso é
acidentado e temos de ir sempre atentos às marcações, mais ainda sendo de
noite, os km parece que passam mais rápido, ou surgem mais facilmente, se
quiserem. Recordo particularmente um local onde havia uma bifurcação onde
estavam uns voluntários a indicar o caminho correcto em que, depois de os
cumprimentar e de lhes agradecer, o meu relógio apitou o completar de mais um
km. Olhei e pensei “já corri 7 km?”.
Assim,
lá fui seguindo, sempre com atenção ao caminho (logo eu que vejo mal) e às
marcações que, verdade seja dita, em alguns locais não eram as melhores. De vez
em quando lá passava por alguns voluntários pelo caminho, em abastecimentos ou
ainda em locais onde estavam fotógrafos, mas em termos de participantes, andei
sozinho sempre entre o km 5 e o km 14. Depois fui junto a uma participante até
perto do km 17 (e apenas a apanhei porque ela se tinha enganado, num dos tais
locais onde a marcação não estava bem colocada, e teve de voltar para trás)
para depois voltar a perdê-la de vista (no final não me espantei deste facto,
pois ela ganhou o escalão em que participava) e voltei a seguir sozinho até à
meta.
Se
a maior parte do percurso fiz sem grande dificuldade, a verdade é que houve 3
momentos, todos nos últimos 5 km, em que me vi com maiores problemas. O
primeiro foi quando o percurso tinha uma ligação de alcatrão de cerca de 1,5
km, praticamente em recta, com ligeira subida e descida. Aqui pareceu-me que
corria sem sair do sítio, pois a recta parecia que nunca mais terminava e, como
não avistava outros participantes, nem à frente nem atrás, a sensação de
solidão e cansaço parecia atacar mais. Depois, já novamente em trilhos, o
percurso passava junto a uma vinha (mais uma das várias ao longo do trajecto)
mas em que existiam valas transversais, algumas bastante fundas (a maior tinha
cerca de meio metro) o que me obrigou a ir com cuidados redobrados, muito mais
lentamente, o que fez surgir o sentimento de parecer que nunca mais chegaria à
meta. Este sentimento surgiu novamente no terceiro, e último, destes momentos
mais difíceis. A passagem por uma linha de comboio desactivada, em que
corríamos sobre pedras soltas, típicas das linhas de comboio. Como ia a magoar
os pés, tentei correr em cima das traves de madeira, mas se pisasse em todas
seguidas, dava passadas muito curtas e não me dava jeito, se tentasse de duas
em duas, ficavam passadas muito longas e não conseguia (já não para não falar
que a madeira estava húmida, representando um perigo extra). Contrariado, pois
sentia que o final estava próximo mas assim ia demorar a lá chegar, lá voltei a
caminhar sobre a tábuas até que foi possível passar a um empedrado mais
regular, já junto da antiga estação, e voltar a correr. E aqui já corria para o
final.
Saindo
da estação, havia uma pequena ligação em alcatrão até uma entrada de um parque,
que atravessaria na totalidade, passando até pelo local onde estava o carro e o
desejado banho, até chegar à estrada principal onde, virando à esquerda,
faltaria menos de 1 km para a meta. Aqui, apesar de estar pouca gente, fizeram
uma festa à minha chegada, 2h29 depois de ter partido, que muito me animou e me
fez ser invadido por uma grande felicidade por ter superado todo este desafio.
Faltava
apenas voltar ao carro, tomar banho e retornar à praça principal para assistir
à entrega de prémios e, depois de uma foto final com participantes e
colaboradores do evento, dirigir-me ao local onde a organização disponibilizou
a tal sopa bem quente (e que bem que soube depois de todo o frio, sobretudo
durante a cerimónia dos pódios), uns pães com chouriço muito bons, fruta
variada, bolachas e um chá de limão que deu para fazer a viagem de regresso bem
aconchegado e quente.
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