Quando o Pedro me disse que ia haver
uma corrida de obstáculos em que poderíamos participar, desde logo me mostrou a
informação. Ao ver o cartaz de divulgação, onde dizia “a corrida com obstáculos
mais dura do país”, eu desde logo lhe disse: “está fora de questão!”. Não tenho
preparação física para isto, nem pensar em me meter numa dessas!
O Pedro já há algum tempo que queria
participar num evento destes. Eu até estaria de acordo também, mas não neste,
não na “corrida com obstáculos mais dura do país!”. Ele não desistiu… ora
falava com os responsáveis pela organização, já seus conhecidos de um grupo de
corridas em que tem participado às terças-feiras, ora falava comigo e me dizia
que seria capaz de o fazer, voltava a falar com eles, voltava a falar comigo e
assim sucessivamente… até me ter realmente convencido (e assim não ter que se
aventurar sozinho neste desafio), com o argumento de que, em último caso, poderia
contornar os obstáculos, não tendo de, obrigatoriamente, ultrapassá-los. O meu
problema era apenas não saber com o que me iria deparar – é que às cegas já
normalmente eu vou para as provas, mas para esta não estava totalmente às
cegas, intitulava-se a “corrida com obstáculos mais dura do país!”.
Foi assim que, ainda com relativa
antecedência, nos inscrevemos, conseguindo ainda mais um membro em
representação da P&A Team, uma vez que a inscrição de equipas, mais
económica, teria um limite mínimo de 3 elementos.
Contagem decrescente até ao evento,
eis que nos chega um e-mail com informação relevante para esta corrida: entre
outras questões logísticas e de secretariado, deparo-me com “são 12 km de trail
selvagem e muito duro (…) há caminhos largos, outros estreitos outros sem
caminho (…) os obstáculos incluem água e alguma profundidade, escalada a
alturas consideráveis, escorregas, pontes e árvores (…)”. OMG!!!! Vai ser uma
vergonha, vou contornar todos os obstáculos!!!!
E lá chegou o dia... Terminada mais
uma intensa semana de trabalho, sábado era dia de levantar ainda antes da 7h00
para a “corrida com obstáculos mais dura do país!”. Apesar da partida da nossa
equipa ser apenas às 10h30, o secretariado para levantamento dos dorsais
fechava às 9h00 e ainda tínhamos o caminho até à Póvoa de Lanhoso pela frente.
Pouco passava das 8h30 quando chegámos
ao local do evento. Estacionámos facilmente o carro e desde logo nos dirigimos
ao secretariado que ainda apresentava uma considerável fila de participantes.
Apesar do nevoeiro cerrado que ainda se fazia sentir, o sol parecia querer
aparecer e adivinhava-se um quente dia. Dorsais e buff de oferta nas mãos, lá
nos dirigimos novamente ao carro para as únicas fotos que fizemos (já que não
seria de arriscar levar o telemóvel) e equipar a rigor. Pelas 10h00 fomo-nos
dirigindo para o local de partida onde havia um verdadeiro ambiente de festa
entre organização e participantes. Já com o nosso 3º elemento de equipa por
perto, hora de nos dirigirmos para junto da linha de partida para ouvir as
últimas recomendações e cuidados a ter nesta corrida, “a corrida com obstáculos
mais dura do país!”. Dado o ambiente alegre e a beleza natural do parque –
DiverLanhoso – a ansiedade do percurso foi-se dissipando.
10h30 e soou o som de partida.
Começámos calmamente, num percurso ainda dentro do parque, onde, poucos metros
à frente nos deparávamos com o primeiro obstáculo: um grande buraco cheio de
água e lama, que teríamos de atravessar. “Oh… ainda nem aquecemos, não me
apetecia nada sujar-me já toda de lama”. Mas lá teve de ser… e até foi divertido! Continuámos o percurso,
onde pouco depois, se foi formando uma fila à passagem dos primeiros trilhos
estreitos com mais uns obstáculos naturais: degraus acentuados e troncos no
meio do caminho que teríamos que avançar.
A primeira metade do percurso foi
feita com alguma dificuldade física, principalmente nas subidas íngremes que
encontrámos. Ainda assim, mais uma vez, após atingirmos o topo da montanha
ficávamos deslumbrados com tamanha beleza natural em redor. Houve lama, houve
rochas, houve água e pequenos riachos que tivemos de atravessar, descidas
técnicas, subidas inclinadas, single
tracks, houve pisos acidentados e irregulares mas o pior (ou melhor) ainda
estaria para vir. Pouco depois do meio do percurso, eis que encontrámos o tão
precioso abastecimento, junto a um agradável riacho que por ali passava.
Laranjas doces, como tem vindo a ser habitual, (viciantes) amendoins, batatas
fritas, banana, água, tudo para voltar a repor os valores de energia que ainda
seriam necessários para cumprir a restante prova.
fotografia de Amado Marques |
Após a merecida pausa, lá nos
colocámos novamente a caminho. Qual não é a nossa surpresa quando reparámos que
a marcação do percurso nos indicava que teríamos de entrar nesse “agradável
riacho”, cujo nível de água, desde logo, nos chegava à cintura. Bem, o fundo
era terra, pelo que a primeira parte se fez relativamente bem. Mais à frente,
um “muro” que fazia cascata, que teríamos que avançar, sempre dentro de água,
continuando depois a bela caminhada dentro do riacho. Uns metros a seguir,
passagem por baixo de uma pequena ponte de pedra e sempre a caminhar dentro da
água que nos dava ora pelas coxas, ora pela cintura. E o riacho não tinha fim…
pelo contrário, a dificuldade ainda aumentara quando a terra do fundo passou a
ser um amontoado de grandes pedras debaixo dos pés e nos obrigou a redobrado
cuidado, de tal forma escorregadio se tornara, com a agravante de começar a
haver correntes de água que teimavam em nos querer empurrar numa direção
diferente daquela que queríamos tomar. Escalada por uma pequena catarata e,
finalmente, visualizámos a saída para voltar novamente aos trilhos (em terra),
mas não sem antes passar por uma parte ainda mais funda que nos atingiu o peito.
Foi difícil recomeçar a corrida, dado o frio nas pernas e nos pés que tanto
tempo na água nos causou. Mas, devagarinho, lá voltámos a aquecer, apesar de,
no caminho seguinte, irmos ainda durante mais algum tempo dentro de uma levada
de água que pelo trilho passava. Os km seguintes, até regressarmos novamente ao
parque foram intensos e marcantes: passámos por buracos cravados nas grandiosas
rochas da montanha, escalámos montes de terra e rochedos gigantes, possível
apenas com a ajuda das cordas estrategicamente colocadas para o fazermos,
descemos montanhas e voltámos a subi-las. A última subida foi algo dolorosa, pois já se
visualizava o cimo do monte, mas demorávamos a atingi-lo! Mas lá chegámos, onde
entramos novamente no parque “aventura”, no qual, no último km, ainda nos
esperavam os últimos obstáculos.
Logo o primeiro, começou com mais uma
difícil escalada de uma rocha, cuja parede, praticamente vertical, mesmo com as
cordas, era difícil subir, atravessámos uma série de
túneis em forma de labirinto situados debaixo da terra, saltámos uma parede de
madeira para aterrar em mais uma “piscina de lama”, atravessámos redes e “teias
de aranha”, rastejámos na terra por baixo de uma rede de arame, assim como
através de um pequeno túnel com mais água e mais lama, subimos e descemos obstáculos
de madeira e, apesar de não ter sido a prova final foi a nossa de eleição, descemos
através de um escorrega para dentro de um lago, onde teríamos de nadar até um
barco de borracha e saltar deste para cada um dos 3 barcos à sua frente, como
se de nenúfar em nenúfar se tratasse (mas de forma mais violenta, dado que
tínhamos que literalmente nos atirar para o barco seguinte, se não quiséssemos
cair na água). No último barco, voltar a mergulhar e nadar até à margem, para
continuar o percurso. Foi giro… e refrescante!
fotografia de Ricardo Vieira |
Balanço final: terminámos mais uma
prova (as medalhas de finisher
comprovam-no), muito molhados e muito sujos de terra e lama, mas de ânimo
limpo, muito cansados, mas muito divertidos e felizes e sem mazelas de maior.
De seguida, ainda nos aguardava o
último desafio: tomar banho de água (muito) fria – nada que a organização não
tivesse já alertado que pudesse vir a acontecer, tamanha a afluência de
participantes que houve. Depois disso, aí sim, a prova estava concluída!
fotografia de Ricardo Vieira |
Hora de ir almoçar: um delicioso
bacalhau à brás com salada, na esplanada do restaurante do parque, a custo
controlado por acordo com a organização, a contemplar a bela vista daquele
local.
Genericamente, consideramos que tudo
esteve muito bem organizado, sem falta de informação, boa sinalização do
percurso (estando atentos, ninguém se perderia, tal como nós não nos perdemos),
ambiente alegre e divertido. E, no final, não foi uma prova nada fácil, mas
também não foi assim tão dura. Pelo menos, conseguimos! eheheheh
fotografia de Runners |
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