Somos finishers! Mais um desafio superado! No final da prova… metade do
cansaço desapareceu – pelo menos o psicológico! Demos lugar ao sorriso,
desfrutamos do sol, do ambiente que estes eventos proporcionam… Foi duro, mas
já é passado! Que venha o banho de água quente!
Foi assim que nos sentimos após quase
5 horas de exercício, ora a correr, ora a caminhar. Para nós, desde sempre
impensável passar tanto tempo a realizar uma prova. Mas, no
final, valeu a pena e hoje ainda pensamos nos momentos que nos proporcionou.
Em pleno março e não se sentia ponta
de frio. Estava um sol brilhante e adivinhava-se desde logo uma manhã quente.
Ainda bem, gostamos de bom tempo e podemos levar roupas mais leves. Aliás, até
deu para bronzear.
A prova começava às 9h00. Pouco depois
das 8h30 estávamos já na praça onde decorriam as partidas/chegadas. Fomos
cumprimentando amigos que por nós se iam cruzando. Alguns já tinham partido às
8h00, rumo ao percurso dos 45 km. Nós íamos, pela 1ª vez, fazer 21 km, mas o
percurso sofreu alterações nos últimos dias, ficando marcado com 23 km que, no
final, nos nossos gps, veio a contabilizar quase 25 km. Afinal, vários desafios
se apresentaram: o trail mais longo que havíamos feito foi de 18 km, pensamos
em nos inscrever no de 21 porque, no fim de contas, seriam apenas mais 3 do que
o máximo que tínhamos experimentado, mas que entretanto se transformaram em
mais 5 e, no final, quase mais 7 km… Ora, não só psicologicamente mas também
fisicamente vimo-nos afetados, ainda para mais sabendo que o último trail que
havíamos feito tinha sido há já, aproximadamente, um mês e meio, quando marcamos
presença no Trail de Santa Iria.
Mas foi num ambiente de festa e cor
que partimos para mais esta aventura, defendendo mais uma vez as cores da
P&A Team: “passion and adventure”!
Um pequeno circuito em estrada para, a
quase 1 km, entrarmos nos trilhos propriamente ditos. Logo no 2º km, o percurso
afunilava de tal forma que se formou uma fila entre o ritmo lento e a pausa,
tendo nós desde logo aproveitado para as primeiras fotos da corrida. Não nos
importamos de fazer estas paragens, pois apenas vamos com tempos estimados de
finalização, e não com objetivos de competição.
Passado o 1º single track, lá recomeçamos a corrida mas logo ao 3º km sentimos
as primeiras dificuldades e, inevitavelmente, voltámos a baixar o ritmo dado o
percurso que atravessávamos até ao 4º km. E não fomos só nós que o sentimos.
Todos os que estavam perto de nós iam igualmente baixando o ritmo, dadas as
subidas que mais pareciam verdadeiras escaladas, e as descidas, que mais parecia
rappel, como o Pedro comentava no
final.
Quase até ao 1º abastecimento de água
fomos perto de um participante que, não sei se por ter caído ou se por algum
tipo de lesão, estava com dificuldades em continuar. Os amigos tentaram dar-lhe
força através de palavras de pseudo-motivação. Pseudo porque se via na cara do
rapaz que algo não estava bem e que ia em sofrimento, mas, ao mesmo tempo que
não o queriam deixar para trás, diziam-lhe que o cansaço e a dor eram coisas da
cabeça dele. Denied!
Apesar das dificuldades, conseguíamos
ir fazendo comentários sobre o que se ia passando à nossa volta: as observações
que se ouvem durante estes percursos são, sem dúvida, hilariantes e a entreajuda
por parte de desconhecidos é realmente fantástica. Desde uma participante que
atravessava sem medo todos os riachos e lama com que se deparava, dizendo
alegremente “isto é trail! Isto é trail!”, até aos conselhos que nos vão dando
os mais experientes, como aconteceu comigo em determinada descida, enquanto
passavam por mim: “não podes olhar para o chão! Salta! Salta! Salta!”. A falta
de experiência fazia-me ir a caminhar no local onde, afinal, até dá para
correr, nem que seja aos saltinhos. Um dia, pode ser que o faça! Interiorizei o
comentário e, em cada descida acidentada, apesar de ir a passo, pensava ou até
comentava com o Pedro: “salta, salta, salta!” eheheh.
Por mais que queira tentar descrever
as dificuldades com que nos fomos deparando ao longo do percurso, quer pelo
terreno acidentado, quer pelas subidas intermináveis e de tal forma inclinadas,
quer pelas descidas que praticamente apresentavam o mesmo nível de dificuldade,
não o consigo fazer com imagens, muito menos com palavras. Realmente estas
provas fazem-nos sofrer e muitas vezes nos perguntamos porque estamos ali,
porque, contrariamente ao normal, não nos importamos em enterrar as sapatilhas
novas na lama e, no limite, porque pagamos para nos sujeitarmos a tais
situações eheheh – no entanto, ao mesmo tempo que surgem estas questões, as
respostas são-nos colocadas bem na frente dos olhos:
· -
Desde
logo porque ao nosso lado está o nosso parceiro de vida! Alguém que nos
incentiva e que, sempre que vai com mais algum ritmo, espera por nós e não nos
deixa ficar para trás
· - Depois
porque ao longo de uma prova destas não é apenas 1 desafio que superamos, são
pequenas vitórias que vamos adquirindo ao longo do percurso: passar um riacho,
“escalar” uma rocha, descer um penhasco, fazer uma subida em que, quando
olhamos a tentar perceber onde termina, apenas visualizamos o céu e pensamos: o
céu é o limite! “bora” lá na sua direção! E quando chegamos lá cima, vemos que,
afinal, o céu ainda está tão longe, que aquela montanha não é assim tão alta
· - No
cimo da montanha, olharmos em redor e termos uma vista 360º pelas serras e
localidades circundantes. Olharmos para aquela subida que, agora, se
transformou numa gigante descida… Uau… Olha o que conseguimos fazer! E
aproveitarmos para mais umas fotos! Queremos registar tudo para podermos
recordar um dia bem mais tarde
· - De
repente, e parece que do nada, olhamos para o lado e passa um rio onde só
apetece mergulhar, vemos quedas de água que nos refrescam só de olhar
· -
Sentimos
o cheiro fresco das árvores verdejantes e comentamos: “humm… que cheirinho!”
· -
Encontramos
uma pedreira de uma imensidão indescritível - Empresa das Lousas de Valongo
(Nem sabia que
se situava ali, e muito menos que se trata da pedreira mais antiga em atividade
de que há registo em Portugal, possuindo 15 ha de área extrativa e reservas
para vários anos. No fundo do vale, até parecia que formava uma piscina, com
água de um azul luminoso – não faltou vontade de dar um valente mergulho, tal
era o sol abrasador que se fazia sentir)
E é sempre neste espírito que vamos seguindo
o nosso caminho…
No entanto, não obstante todas estas
sensações de motivação, quando parece que o pior já passou, eis que chegámos ao
último abastecimento de água, mais ou menos ao km 20. As pessoas da organização
bem diziam a quem por ali parava para beberem bem e para recuperarem energias
porque a fase seguinte não iria ser fácil. Ora eu pensei: “depois do que já
fizemos, isto não pode ser muito pior, até porque só faltam 3 km” (que afinal
foi mais um pouco). Realmente vi os participantes a “fazerem mais uma escalada”,
mas não se via até onde iria ser. A verdade é que foi mais uma daquelas que ia
até ao céu! Tanto é que demorámos uns “módicos” 20 minutos a fazer 1 km. A
partir daqui sim, eu só perguntava: “mas isto nunca mais acaba?!”. Elementos da
organização por quem passávamos diziam: “está quase. Quando chegarem lá acima
(eu já via o “lá acima”), depois é sempre a descer”; “downhill”, como disse um
deles. Qual quê!!!!! Até havia descidas, mas nas quais eu não conseguia correr,
apesar de na minha cabeça estar o “Salta! Salta! Salta!”. A verdade é que eu
não me queria “esbardalhar” – partia-me toda, certamente! E, de repente, aparece
mais uma subida! “C’um caraças, mas então eles não disseram que era sempre a
descer?!?!?!?”
E foi assim, entre caminhos
desnivelados, que chegámos à saída dos trilhos em direção à tão ansiada meta. Sem
contar, quando menos esperávamos, mais um desafio: passar por um riacho que, a
mim, me dava quase pela cintura. Ao contrário do que pensei, que não me
apetecia muito molhar os pés e ir o resto do caminho a fazer “splash, splash, splash”, com água dentro
das sapatilhas, quando entrei, senti o corpo a refrescar de tal forma, que até me
apeteceu meter completamente debaixo de água (mas não o fiz!).
Entrámos depois no estrado por onde
tínhamos passado no início, mas que, desta vez, parecia interminável… e lá
estava a pergunta outra vez: “mas isto não acaba?!”. Ainda assim, pouco depois,
lá acabámos, mais uma vez de mão dada.
“Somos
finishers! Mais um desafio superado! No final da prova… metade do cansaço
desapareceu – pelo menos o psicológico! Demos lugar ao sorriso, desfrutamos do
sol, do ambiente que estes eventos proporcionam… Foi duro, mas já é passado!
Que venha o banho de água quente!”
No final de contas, tão importante
quanto a capacidade física, é mantermos a nossa força mental e lutarmos contra
a nossa, por vezes, fraqueza psicológica. São eventos como estes que nos fazem
superar a nós mesmos e se traduzem em excelentes terapias, não só de esfoliação,
tamanha a lama que se apanha (ihihih), mas psicológicas, por, apesar de tudo,
nos enaltecer o ego.
Uma palavra à organização: ótima
divulgação do evento, percurso muito bem sinalizado, ótimas condições de
banhos, ótimos abastecimentos e umas belas lembranças para os finishers. Ao fim de tamanho esforço,
era escusado o grau de dificuldade dos últimos km, especialmente daquela última
descida radical. eheheh
Muitos parabéns pela prova, por este magnifico texto mas especialmente pelo forma como encaram estas aventuras...é este o espirito do trail.
ResponderEliminarAbreijos
Muito obrigado pelo simpático comentário!
EliminarTentamos sempre sobretudo manter o espírto de aventura e a diversão!
Este comentário foi removido pelo autor.
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