Sintra.
Cidade e campo; serra, praia e mar; cultura, monumentos e natureza; um paraíso
a escassos km de Lisboa.
Vamos
lá algumas vezes em passeio, para descontrair e viver. Em desporto, não temos
aproveitado tanto quanto podíamos. Quanto devíamos. Apenas uma vez em btt, num
passeio entre amigos, e outra em corrida de estrada, no evento Running to the
Sunset. Faltava o trail…. Até agora. E que escolha!
Só
aquele ponto de partida, em pleno areal da praia das maçãs, é de ficar de
coração cheio. O cheiro da maresia no ar fresco da manhã e a vista da serra
para onde iríamos transportam-nos quase imediatamente para um mundo de
aventuras, onde somos capazes de tudo e o termo impossível não existe no
dicionário.
Os
primeiros metros de corrida em areia servem como chamada de atenção, ainda que
naquele instante ninguém se dê conta disso, para as dificuldades que iremos
sentir. A travessia do riacho que desagua naquele local, nem 100 m de percurso
feitos, simboliza a humidade que vamos ter ao longo de todas as cinco horas de
corrida. A pequena subida logo após esse riacho é uma ínfima amostra daquilo
que vai ser lutar com as arribas nos últimos km de prova. E, chegados ao cimo e
enquanto se dá aquela pequena volta “turística”, vendo ao longe o topo do monte
onde iremos passar e observando do alto o mar e as praias, temos a metáfora
perfeita para toda a beleza que iremos ver, mas mais que isso sentir. Sim,
porque a beleza desta terra sente-se mesmo.
Rapidamente,
apesar de sempre a subir, se sai da zona de casario para começar a serpentear
entre árvores e, quase sem darmos por isso, estamos a entrar na serra
propriamente dita. E nem reparamos que já estamos a ficar cansados, tal é a
envolvência que nos arrebata a cada passada, a cada km percorrido. No primeiro
abastecimento, com separação de percursos, é que damos conta: já estamos aqui?
Já passou este tempo? Ainda falta assim tanto para chegar lá acima? Mas o
entusiasmo é grande, por isso vamos lá!
É
redundante continuar a falar dos locais por onde se passa e continuamente
referir a beleza de cada um. Deve ser quase impossível (neste caso admitimos
que sim) encontrar em Sintra um sítio que não seja deslumbrante e arrebatador.
Mas a verdade é que a cada subida, a cada curva, a cada km ou hora passada, não
deixávamos de nos surpreender com o que víamos, com o que encontrávamos, com o
que sentíamos. E já conhecíamos, imaginem quem lá estava pela primeira vez –
bem, em boa verdade, alguns pontos também foram novidade para nós.
Em
algumas subidas era necessário parar um pouco para reagrupar, pois nas mais
longas tendíamos a separar-nos um pouco. Mas nunca ficámos tão longe que
perdêssemos contacto. Excepto talvez antes do abastecimento de sólidos, muito
bem guarnecido, com salgados, doces, frutas e bebidas diversas, em quantidade
suficiente para toda a gente, em que o afastamento foi um pouco mais longo. Mas
valeu a pena a espera, o descanso, para depois enfrentarmos juntos a descida de
downhill que se seguia, com tanta humidade a cair das árvores que parecia que
tinha começado a chover, apesar do muito sol e calor que fazia.
Depois
de mais uns trilhos fantásticos, uma pequena ligação de estrada num percurso
que reconhecemos, pois a corrida Running to the Sunset tinha lá passado, para
atravessarmos a nacional que nos levava em direcção ao mar, ao cabo da roca e
aos tão desejados – pensávamos nós – km finais.
Aqui
começava a parte mais dura desta aventura. Uns poucos km, sempre paralelos ao
mar, na direcção da meta, mas com subidas e descidas vertiginosas, tão
inclinadas que quase dava para saltar de um lado para o outro, em plenas
arribas. Não havia necessidade de, após 20 km de prova (mais para quem fez o
percurso longo), estarmos sujeitos a este sobe e desce desgastante e quase
impossível – sim, foi aqui que descobrimos que essa palavra não existe; não
desistimos e chegámos ao objectivo final. E, quando não estávamos a subir ou
descer uma arriba, estávamos a correr em areia. Como na travessia da praia
grande, em que descíamos as longas e inclinadas escadas de acesso a uma ponta da
praia para ter de atravessar toda a extensão do areal e sair na ponta oposta,
junto à piscina.
Depois
de uma corrida quase em plano, mas com terreno pesado, por ser areia, no cimo
da falésia, passamos novamente no sítio onde tínhamos corrido os primeiros
metros, com a praia e a meta já à vista. Apenas faltava descer o que tínhamos
subido, atravessar o riacho em sentido inverso e correr aquelas (penosas)
dezenas de metros pelo areal até passar o pórtico que nos permitia dizer
“Conseguimos! Chegámos! Sobrevivemos!”. Infelizmente, ambos fizemos isto mas
individualmente, pois nos últimos dois ou três km o cansaço toldou-nos um pouco
o julgamento e não os corremos juntos. Mas estivemos juntos no final e o
sentimento de dever cumprido, de superação, era comum.
fotografia de Paulo César Borges |
Prevenidos
como sempre, activámos o nosso plano para o resto do dia: fomos ao carro trocar
de roupa e voltámos para a praia para, enquanto recebíamos os participantes que
ainda continuavam a chegar, aproveitávamos o bom clima e fazíamos uma sessão de
crioterapia naquelas águas frescas.
fotografia de opraticante.pt |
Mais
tarde, já após a entrega dos prémios aos vencedores das diferentes categorias,
regressámos a casa para o retemperador banho e fomos repor energias com uns
belos petiscos.
E
ainda foi possível estarmos com o Rui e a Susana, que também tinham participado
no evento, e relaxar um bom par de horas em amena mas animada conversa à volta
de uma mesa de gin tónico e sangrias. Que mais se pode querer de um dia de
verão?
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