sexta-feira, 4 de setembro de 2015

trail monte da lua (18 de julho)



Sintra. Cidade e campo; serra, praia e mar; cultura, monumentos e natureza; um paraíso a escassos km de Lisboa.

Vamos lá algumas vezes em passeio, para descontrair e viver. Em desporto, não temos aproveitado tanto quanto podíamos. Quanto devíamos. Apenas uma vez em btt, num passeio entre amigos, e outra em corrida de estrada, no evento Running to the Sunset. Faltava o trail…. Até agora. E que escolha!


Só aquele ponto de partida, em pleno areal da praia das maçãs, é de ficar de coração cheio. O cheiro da maresia no ar fresco da manhã e a vista da serra para onde iríamos transportam-nos quase imediatamente para um mundo de aventuras, onde somos capazes de tudo e o termo impossível não existe no dicionário. 

Os primeiros metros de corrida em areia servem como chamada de atenção, ainda que naquele instante ninguém se dê conta disso, para as dificuldades que iremos sentir. A travessia do riacho que desagua naquele local, nem 100 m de percurso feitos, simboliza a humidade que vamos ter ao longo de todas as cinco horas de corrida. A pequena subida logo após esse riacho é uma ínfima amostra daquilo que vai ser lutar com as arribas nos últimos km de prova. E, chegados ao cimo e enquanto se dá aquela pequena volta “turística”, vendo ao longe o topo do monte onde iremos passar e observando do alto o mar e as praias, temos a metáfora perfeita para toda a beleza que iremos ver, mas mais que isso sentir. Sim, porque a beleza desta terra sente-se mesmo. 


Rapidamente, apesar de sempre a subir, se sai da zona de casario para começar a serpentear entre árvores e, quase sem darmos por isso, estamos a entrar na serra propriamente dita. E nem reparamos que já estamos a ficar cansados, tal é a envolvência que nos arrebata a cada passada, a cada km percorrido. No primeiro abastecimento, com separação de percursos, é que damos conta: já estamos aqui? Já passou este tempo? Ainda falta assim tanto para chegar lá acima? Mas o entusiasmo é grande, por isso vamos lá!

É redundante continuar a falar dos locais por onde se passa e continuamente referir a beleza de cada um. Deve ser quase impossível (neste caso admitimos que sim) encontrar em Sintra um sítio que não seja deslumbrante e arrebatador. Mas a verdade é que a cada subida, a cada curva, a cada km ou hora passada, não deixávamos de nos surpreender com o que víamos, com o que encontrávamos, com o que sentíamos. E já conhecíamos, imaginem quem lá estava pela primeira vez – bem, em boa verdade, alguns pontos também foram novidade para nós.





Em algumas subidas era necessário parar um pouco para reagrupar, pois nas mais longas tendíamos a separar-nos um pouco. Mas nunca ficámos tão longe que perdêssemos contacto. Excepto talvez antes do abastecimento de sólidos, muito bem guarnecido, com salgados, doces, frutas e bebidas diversas, em quantidade suficiente para toda a gente, em que o afastamento foi um pouco mais longo. Mas valeu a pena a espera, o descanso, para depois enfrentarmos juntos a descida de downhill que se seguia, com tanta humidade a cair das árvores que parecia que tinha começado a chover, apesar do muito sol e calor que fazia.

Depois de mais uns trilhos fantásticos, uma pequena ligação de estrada num percurso que reconhecemos, pois a corrida Running to the Sunset tinha lá passado, para atravessarmos a nacional que nos levava em direcção ao mar, ao cabo da roca e aos tão desejados – pensávamos nós – km finais.


Aqui começava a parte mais dura desta aventura. Uns poucos km, sempre paralelos ao mar, na direcção da meta, mas com subidas e descidas vertiginosas, tão inclinadas que quase dava para saltar de um lado para o outro, em plenas arribas. Não havia necessidade de, após 20 km de prova (mais para quem fez o percurso longo), estarmos sujeitos a este sobe e desce desgastante e quase impossível – sim, foi aqui que descobrimos que essa palavra não existe; não desistimos e chegámos ao objectivo final. E, quando não estávamos a subir ou descer uma arriba, estávamos a correr em areia. Como na travessia da praia grande, em que descíamos as longas e inclinadas escadas de acesso a uma ponta da praia para ter de atravessar toda a extensão do areal e sair na ponta oposta, junto à piscina. 


Depois de uma corrida quase em plano, mas com terreno pesado, por ser areia, no cimo da falésia, passamos novamente no sítio onde tínhamos corrido os primeiros metros, com a praia e a meta já à vista. Apenas faltava descer o que tínhamos subido, atravessar o riacho em sentido inverso e correr aquelas (penosas) dezenas de metros pelo areal até passar o pórtico que nos permitia dizer “Conseguimos! Chegámos! Sobrevivemos!”. Infelizmente, ambos fizemos isto mas individualmente, pois nos últimos dois ou três km o cansaço toldou-nos um pouco o julgamento e não os corremos juntos. Mas estivemos juntos no final e o sentimento de dever cumprido, de superação, era comum.

fotografia de Paulo César Borges

Prevenidos como sempre, activámos o nosso plano para o resto do dia: fomos ao carro trocar de roupa e voltámos para a praia para, enquanto recebíamos os participantes que ainda continuavam a chegar, aproveitávamos o bom clima e fazíamos uma sessão de crioterapia naquelas águas frescas.

fotografia de opraticante.pt


Mais tarde, já após a entrega dos prémios aos vencedores das diferentes categorias, regressámos a casa para o retemperador banho e fomos repor energias com uns belos petiscos.

E ainda foi possível estarmos com o Rui e a Susana, que também tinham participado no evento, e relaxar um bom par de horas em amena mas animada conversa à volta de uma mesa de gin tónico e sangrias. Que mais se pode querer de um dia de verão?

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